Urna eletrônica e grafico em queda

Passadas as eleições, o que podemos esperar da economia?

Cenários da economia para orientar suas decisões

Os resultados das eleições mostraram uma mudança bastante profunda no equilíbrio das forças dos diversos segmentos sociais, refletindo evidentemente os anseios e as visões políticas das pessoas.
Independentemente da posição política de cada um, todos os cidadãos querem ver o País retornar ao rumo do crescimento porque, é claro, todos queremos um amanhã melhor. Esperar ou desejar o pior é sinal de insensatez.

Assim, acredito que todos temos em nossas mentes a pergunta: o que podemos esperar para os próximos anos?

Vamos conversar sobre isso? Continue comigo.

Muitos cenários estão sendo elaborados, e encontrei um que estava mais didático e com boa apresentação.
A revista Exame, de 17/10/2018, trouxe um interessante artigo sobre cenários futuros da economia brasileira para a eventual (na época) vitória de um dos candidatos, Bolsonaro ou Haddad. Segundo a revista, os cenários foram produzidos por duas consultorias renomadas e 12 analistas políticos, que além dos cenários estimaram as probabilidades de concretização.

Por serem muito interessantes e, acredito, poderem contribuir para as decisões econômicas pessoais que todos temos que tomar, vou me basear neles para esta nossa conversa. Na ocasião não quis publicar essa análise para não dar um caráter político, como se eu quisesse influenciar o seu voto.

Com a vitória do Bolsonaro, vamos conversar mais sobre os cenários prováveis do governo dele. No final, vou apresentar o que foi considerado o mais provável de ocorrer em um governo Haddad. Me acompanhe até o final que você verá as razões da apresentação desse cenário.

Apesar da turbulência, da recessão econômica e do elevado desemprego, o Brasil apresenta alguns aspectos positivos que impediram um desastre maior. O artigo mostra esses pontos que reproduzo aqui, porque formam as bases de uma possível recuperação.

 

1) As contas externas estão equilibradas. A recessão reduziu as importações e aumentou as exportações;
2) As reservas internacionais são significativas;
3) O país continua recebendo investimento estrangeiro;
4) A inflação, embora subindo, permanece sob controle;
5) Banco Central mantem o juro básico relativamente baixo (perto das taxas que o país teve no passado);

Diz o artigo: “Por fim, muitas empresas se ajustaram durante a recessão e podem crescer com mais eficiência. Se a economia se recuperar, não precisarão de grandes investimentos para aumentar a produção, já que há capacidade ociosa.”

Como todo bom planejamento estratégico, foram traçados dois cenários para o governo Bolsonaro: um positivo e outro negativo.
Vamos ver o cenário positivo.

As premissas são:
1. O governo consegue aprovar as reformas da Previdência e tributária;
2. Consegue fazer o ajuste fiscal, contendo a expansão maior da dívida bruta (hoje em 75,9% do PIB);
3. Realiza as privatizações;
4. A sociedade aceita bem as mudanças, sem muitos protestos de rua;
5. A economia dá sinais de recuperação sustentada.

Ocorrendo esses fatores, os setores produtivo e financeiro sentiriam mais confiança em suas decisões de investimento. Os principais indicadores do cenário positivo apresentados pela revista podem ser vistos na figura abaixo. Nessas condições, podemos visualizar cenários também positivos para 2021 e 2022, o que levaria o Brasil a recuperar a maior parte do “estrago” causado pelo governo Dilma.

Cenario positivo Bolsonaro

Cenario positivo Bolsonaro

                                                                                                         Revista Exame de 17/10/2018

Vamos conversar um pouco sobre esses indicadores. Observe que, com o PIB crescendo entre 3% a 3,5%, dívida pública praticamente controlada no nível atual (76,7% e 76,1%) e desemprego em queda, poderemos ter a criação do fenômeno que os economistas chamam de “síndrome de riqueza”. Isso significa que as pessoas e empresas passam a ter confiança na situação do País e antecipam suas decisões de consumo e investimento.

Teremos assim um aumento na criação de empregos, que por sua vez aumenta o consumo das famílias e realimenta positivamente as decisões de investimento.

Considerando que o Ibovespa é um “termômetro” da economia, os valores indicados no cenário, reforçariam essa percepção de sustentabilidade do crescimento porque sinalizariam para as empresas uma possibilidade de captação de recursos via lançamento de ações (IPO). Os consultores da Exame estimaram que a chance de ocorrência deste cenário é de 30%.

A figura abaixo mostra uma representação da espiral crescente do círculo virtuoso de criação de riqueza.

Espiral crescente

Cenário negativo
O cenário negativo elaborado pelas consultorias para o futuro governo Bolsonaro tem as seguintes premissas principais:
1. A base de apoio no Congresso se mostra refratária à agenda liberal e às privatizações;
2. O governo consegue aprovar as reformas com muita dificuldade;
3. Oposição crescente com grandes manifestações populares;
4. O governo começa a adotar uma postura mais autoritária.

Essas condições ainda produziriam nos mercados um bom grau de desconfiança, o que faria o PIB crescer em torno de 2%, um pouco mais do que o esperado para 2018.

Os indicadores seriam piores do que os do cenário positivo, mas ainda estariam sinalizando uma recuperação mais lenta da economia. Os valores podem ser vistos na figura abaixo.
Para este cenário, os analistas estimam que a chance (ou risco) de ocorrência é de 70%.

Cenario negativo Bolsonaro

                                                                                                      Revista Exame de 17/10/2018
Se você está pensando em realizar algum investimento, acredito que a leitura desses cenários poderá lhe dar alguma orientação quanto a sua decisão. Os indicadores de juros básicos, inflação e do índice Ibovespa permitem que você faça uma estimativa, de um lado, da rentabilidade esperada em aplicações de renda fixa e, se for seu caso, das aplicações em títulos de renda variável.
E se os cenários acima não se concretizarem?
Apesar de ser uma pergunta muito incômoda, temos que considerar essa possibilidade.
Vamos responder a esta pergunta com o auxílio de um cenário produzido pela revista Exame para a possibilidade, existente na época, do candidato Haddad ganhar a eleição.
Vou apresentar o cenário negativo porque seria o mais provável e o com os piores resultados. Pode-se ver na figura abaixo que os consultores da revista consideraram que probabilidade de realização era de 80%, ou seja, quase certeza.

Cenario negativo Haddad

Lamentavelmente é o que poderá acontecer se algum dos cenários do governo Bolsonaro não se realizar.
Não vamos discutir as premissas nem os resultados, que podem ser lidos na figura abaixo como curiosidade. Ou, se preferir, para ver “do que escapamos”.

Escapamos? Pergunta difícil de responder porque os grupos derrotados nas eleições ainda têm grande poder de mobilização e condições de criarem perturbações sociais. Isso pode levar o governo Bolsonaro a não ter condições de promover as reformas necessárias, ter dificuldades para controlar o déficit público. Como resultado a inflação poderá voltar, com todas as consequências disto.

No caso de grave comoção social, o cenário negativo previsto anteriormente para o candidato Haddad poderá se realizar. A probabilidade é pequena, mas não é nula, infelizmente.
Isso poderia levar o País a aumentar a recessão, acentuando muito o círculo vicioso de retração da economia com aprofundamento da recessão (desenho abaixo). Ao contrário dos cenários anteriores, essas condições criariam o que se chama de “síndrome de pobreza”.

Espiral decrescente

 Se analisarmos os movimentos políticos do mundo mais desenvolvido, percebemos que há uma forte inflexão para a direita mais conservadora. Ou seja, o pêndulo da política está se movimentado para a direita: Trump, Brexit, Alemanha, Turquia, Itália, Argentina, Chile e muitos outros. A figura abaixo mostra essa mudança na América do Sul.

America do Sul

A razão desse fenômeno, segundo estudos sociais, é o fato de que os “pagadores líquidos de impostos”, ou seja, os grupos sociais que percebem que pagam mais ao governo do que o valor dos benefícios que recebem estão se cansando de “carregar o andor”.

Se você quiser se aprofundar no assunto, sugiro a leitura dos livros cujas capas apresento no final. Ainda não conheço tradução.
Pessoalmente, espero e acredito que os grupos opositores ao nosso futuro governo tenham bom conhecimento de história para saberem que a amplitude do deslocamento do pêndulo para a direita depende o grau de resistência encontrada no caminho (“déjà vu”). Terceira lei de Newton: a toda ação corresponde uma reação igual e contrária.